Geólogos da USP descobrem que Amazônia abriga vulcão mais antigo do mundo
O
Brasil tem um título inédito: é o país com o vulcão mais antigo do
mundo formado pelo sistema de caldeiras vulcânicas. A descoberta foi
feita por geólogos da Universidade de São Paulo (USP) que pesquisavam
mineralizações, ou concentrações anômalas de ouro no Amazonas, entre os
Rios Tapajós e Jamanxin. Sabia-se da existência do produto do vulcanismo
na área, mas ninguém havia encontrado uma estrutura vulcânica
preservada.
Fazendo estudos na área desde 1998, os pesquisadores
já encontraram dois vulcões, nas bordas de grandes estruturas que estão
sendo interpretadas como caldeirões vulcânicos. Acredita-se que haja
vários ali. Há muito esses vulcões deixaram de ser ativos. O interesse
da descoberta está no fato de que suas estruturas normalmente não
permanecem intactas por tanto tempo. A maioria dos sistemas conhecidos
têm até 60 milhões de anos. E o mais antigo, até agora, datava de 500
milhões de anos. Os encontrados na Amazônia têm cerca de 1,9 bilhão de
anos.
Agentes atmosféricos e biológicos e erosão acabam com os
vestígios de antigos vulcões. "Eles são destruídos rapidamente, em
poucos milhões de anos", diz o professor Cãtano Juliani, do Instituto de
Geociências (IGc) da USP, que comandou a pesquisa.
A Terra tem
4,5 bilhões de anos - portanto, período de tempo contado em milhões de
anos é pouco. A pergunta dos pesquisadores é: por que o continente se
manteve tão estável?
Só há duas maneiras de chegar a eles: de
avião ou a pé. O acesso por terra leva dois dias para um deles e uma
semana, para o outro. O avião desce em garimpos próximos. A "pista", na
verdade, é uma subida com uma curva e a asa do avião passa a 3 metros
das árvores. "? divertido", diz Juliani.
Os vulcões foram
formados por um sistema de caldeiras vulcânicas de fluxo de cinzas, um
tipo de geração de magma muito explosivo. Esta é a primeira descrição de
um vulcão deste tipo e com estrutura tão preservada no Brasil.
Um
dos encontrados por Juliani tem atualmente entre 200 e 250 metros de
altura e 2 quilômetros de diâmetro. Como parte já se erodiu, a formação
deveria ter entre 300 e 400 metros de altura. Já que praticamente não
sofreu modificações, os cientistas esperam obter análises interessantes
sobre o que ocorreu ali no passado. Estudam os gases aprisionados no
mineral para encontrar evidências da atmosfera antiga, por exemplo.
Existem
vários tipos de mineralização e a concentração de ouro no Rio Tapajós -
largamente explorada nas décadas de 1970 e 1980 - deu-se por um
processo epitermal, associado a rochas vulcânicas. Juliani foi chamado
por uma empresa de mineração, a Rio Tinto Desenvolvimentos Minerais,
para ajudá-la com análises do material. A descoberta dos vulcões foi um
efeito colateral do estudo.
O achado abre novas perspectivas
para os geólogos, que devem pesquisar a existência de formações tão
antigas quanto estas em outros continentes, na Austrália, Canadá e
principalmente na áfrica. "Podem ser feitas descobertas com fins
econômicos, inclusive", diz Juliani. Como no caso do Brasil, o processo
de mineralização pode produzir ouro, prata, molibdênio e cobre, entre
outros.
Além da USP, participaram pesquisadores da Universidade
Federal do Pará e do Centro de Tecnologia Mineral do Rio de Janeiro. O
trabalho já rendeu duas teses de mestrado, orientadas por Juliani, e
artigos em revistas científicas. Com financiamentos do Conselho Nacional
de Desenvolvimento Científico e Tecnológia (CNPq) e da Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), o grupo de Juliani
contou com uma ajuda fundamental.
Robert Rye, maior especialista
do mundo, que trabalha no serviço geológico dos EUA, analisou as rochas
de graça para os brasileiros, de tão interessado que ficou no projeto
com esses minerais.